segunda-feira, 18 de abril de 2011

Riachuelo - Lançamento da Coleção Ivete Sangalo (Convento do Carmo)

O dono da empresa de comunicação visual onde trabalhava na época me passou o cliente, Riachuelo. Um produtor de moda local era responsável pelo serviço e era amigo dele, o tal produtor, tinha sido contratado por uma agência de São Paulo que tinha a conta da Riachuelo, a BigMan. O evento era o lançamento da Coleção Ivete Sangalo, que seria realizado no Convento do Carmo.

Bom, fui para a reunião de vistoria imaginando o que eles iriam querer fazer para um evento como esse e imaginando a viadagem que seria para ter autorização para qualquer intervenção mais arrojada no Convento do Carmo. Eu já sabia que não se pode bater um prego em nenhuma parede, assim como não se podem 200 outras coisas nesse hotel onde a diária é pra lá de 2.000 conto, em baixa temporada.

Chegando lá encontrei com o contratante e começamos a conversar, eu, ele  e a responsável de eventos do hotel que me olhava com um não na ponta da lingua, imaginando que eu fosse propor uma loucura a qualquer momento. A única coisa que propuz, mais diferente, foram uns tecidos amarrados nas colunas da entrada imitando umas fitas do Bomfim com a marca da Riachuelo. Ela não bradou, então, estaria autorizado, mas a agência decidiu não fazer.

Decidimos por peças que não teriam nenhum impacto nas paredes ou arquitetura, ou quase isso, tinhamos um backdrop*¹, que ficaria atrás do espaço onde Ivete faria a coletiva; um banner que ficaria preso em 2 porta banners que seria posicionado atrás de 2 poltronas enormes onde ela faria uma entrevista especial para a Riachuelo e uma outra lona com ilhós enorme, que teria a mesma altura do pé direito do Convento na parte interna. Aí é que entra o "ou quase isso", essa lona ficaria presa na tubulação anti-incêndio, um tubo de metal, que pra mim, sustentaria a lona, mas só sabe o peso de uma lona grande quem já carregou uma e essa era bem grande.

Com tudo acertado, cheguei na empresa e mandei o email com as medidas e fotos para o pessoal da BigMan fazer os layouts nos formatos corretos, coisa que eles fizeram até rápido demais pra o meu gosto, visto que comunicação visual quase sempre se fode na agência, o arquivo vem em cima do prazo. Com isso feito, só faltavam 2 coisas: marcar com a empresa que instalaria a estrutura metálica de boxtruss*², no caso a Loquip, onde a sempre solícita Bianca joga duríssimo e tem bons preços, e rezar para "Nossa Senhora de Segura a Lona" para a porra do tubo não vir a baixo com a lona gigante.

O evento estava marcado para as 11:00 então, marquei com os caras que instalariam a estrutura as 6:30 da manhã, para não ter como nada dar errado e estar com tudo pronto as 7:00 para eu colocar meu backdrop. Cheguei lá, as 7:00 relaxadão, com a certeza de que estava tudo certinho e que seria mamão com açucar (na verdade pra mim foi, eu odeio mamão...).

Quando eu entro na sala que teria o backdrop percebo que colocaram uma porra de um palco praticável de uns 40cm de altura colado no fundo da sala, o que acabava com todo o planejamento do backdrop que estava acertado para "morrer" junto ao teto, com esse palco a estrutura simplesmente não caberia.

O palco estava prontinho, com carpetes presos nos praticáveis e uma "saia" de lycra tensionada. Fiquei uns 5 minutos olhando aquela porra, imaginando que eu ia fazer da vida e mandei os caras irem instalar o resto do material. Cansei de ficar comtemplando a merda e verifiquei que eu teria que chegar o palco pra frente, como? Não tinha a menor idéia, mas teria...

Acompanhei a montagem do resto do material, o cano que eu estava com medo de despencar suportou o peso da lona numa boa. Mas a porra do palco estava lá, aquela porra... Nisso, as pessoas da Riachuelo começaram a chegar pra montar o evento, desfile, etc. E junto com elas eu sabia que estariam alguns grandes nomes da agência e também do marketing da Riachuelo, ou seja eu tinha que tomar uma decisão rápida ou comprar um tubo de KY. Porque ia sobrar no rabo de alguém, não era pra ser no meu e sim no de quem inventou esse palco depois, mas, ia acabar sendo no meu.

Os caras da minha produção estavam ali, sentados nas cadeiras e olhando pra o palco, junto com os caras que montaram a estrutura do boxtruus e os caras do hotel que eu já tinha convocado para ajudar a puxar o palco. Só que era impossível puxar tudo de uma vez, eram uns 4 praticáveis e todos presos uns aos outros pelo carpete de cima. Foi aí que eu despiroquei e disse: - Vou arrancar essa porra toda! A cara dos presentes não foi muito agradável, me olhavam como se fossem dizer: - Tá maluco porra? Ah, foda-se, calça de veludo ou bunda de fora, sem o backdrop não tinha entrevista e com o palco onde estava, não tinha backdrop.

Comecei a arrancar a toda a saia do palco e descolar os carpetes e consegui puxar o primeiro, detalhe que fazendo isso tudo sozinho e suando mais que puta da Ladeira da Montanha, acho que em algum momento os caras da produção pensaram: - Porra, se o playboy tá fazendo força não é a gente que vai ficar parado. E assim foram me ajudar.

Lá pelas 10:00 conseguimos relocar o palco e remontar o carpete e a saia da melhor maneira possível, na verdade, quem não viu como estava antes nem saberia dizer a diferença. No momento me que colocamos o boxtruss no lugar prontinho e brilhando, entram pela porta uns 3 caras bem vestidos, um mais normal, outro quase metrossexual o outro gordinho e alto pra caralho. Me apresentei e logo depois fiquei sabendo quem eram, o normal era o diretor de marketing, o metrossexual o dono da Riachuelo, (que cá pra nós, que eu nunca diria que era o dono) e o grandão era o tal "pica das galáxias" BigMan, o dono da agência.

Com tudo pronto e montado relaxei, fiquei observando a movimentação da montagem do desfile e da coletiva e cada vez mais eu percebo que comunicação visual não é muito diferente de qualquer outra área, não tem a peça correta? Armenga-se! Arruela vira porca e rebite vira cola.



*¹ Backdrop - Painél com marcas de patrocinadores que fica atrás de quem   está dando uma entrevista coletiva.
*² Boxtruss - Estrutura metálica treliçada para fixação de lonas ou luzes de boites em festas.

terça-feira, 5 de abril de 2011

"Só a Ipanema tem as anatômicas" - Mas não tem a sandália gigante!

Algum tempo depois, já com mais experiência, me aparece lá na empresa um dono de uma franquia de sandálias Ipanema, aquela mesmo que tinha um comercial que se repetia de forma infernal. Como a loja ficava no Comércio, próximo ao Porto ele se aproveitava das chegadas dos Transatlânticos que enchem a cidade de gringos que, segundo ele, entravam na loja loucos de vontade de comprar umas Havaianas, e saiam de la carregando a tal Ipanema, crentes que eram Havaianas.

O pior é que ele era apaixonado pela marca Ipanema, disse que era muito melhor que a concorrente e, como a maioria das pessoas, chegou lá querendo fazer algo bacana para a fachada, disse que tinha que chamar atenção, todo empolgado. Eu fiquei olhando para a cara dele e imaginando que porra eu poderia fazer pra agradar um cara desses e depois de 3 minutos de silêncio (silêncio meu, porque o cara falava pelos cotovelos...) eu falei:

Marcelo: - Um sandalhão!
Ipanema: - Como é?
Marcelo: - É rapaz, uma sandália gigante, exatamente igual as que você vende, fixada na em cima da sua porta tipo, uns 3,5 metros de largura por  1 metro de altura!.
Ipanema: - Adorei! De fuder!

Nisso o cara pirou na batatinha, disse que era isso que ele precisava, que ia ficar perfeito, até de gênio me chamou. Lógico que eu virei pra ele e falei que tudo que era inédito tem um preço maior, justamente por conta da falta de referências para o serviço, eu pelo menos nunca tinha visto nada parecido. O cara ia saindo de lá alegre e satisfeito dizendo que era pra eu orçar logo pra começarmos a produção porque ele tinha muita pressa. Mas como nem tudo são flores, antes de sair ele diz:

Ipanema: - Velho adorei! Mas faça um orçamento de uma fachada normal também pra termos uma referência.
Marcelo: - Filho da puta (deu vontade de falar, mas só pensei)

Acho que ele estava pressentindo a lâmina que iria entrar no abdômem dele. Logo que o cara saiu, fiquei pensando que eu já deveria começar a escolher meu caixão, porque sem dúvida nosso chefe de produção iria me matar quando eu chegasse pra ele com um projeto louco desses, mas, fui falar com ele mesmo assim, entrei na produção olhei pra ele sorrindo e larguei:

Maracelo: - Eliesér, meu querido...
Eliesér: - Hum, me chamando assim, lá vem problema...
Marcelo: - Que problema o quê rapaz, tô com um projeto bala pra você aqui.
Eliesér: - Esse é exatamente meu medo...

Ele viu meu projeto, olhou, respirou e disse sorrindo:

Eliesér: - Você quer me matar né? Diga logo!
Marcelo: - Não rapaz, se você parar pra pensar, vai ser simples...
Eliesér: - Simples minha pi... (nessa hora ele calou e lembrou que era cristão)

Mas era verdade, essa porra de simples não tinha nada, era um projeto extremamente complicado feito em caixaria de poliestireno* com alturas diferentes na frente e no fundo e curvas no meio, justamente porque "só a pooorra da Ipanema tem as anatômicas". Isso tudo sem contar que eu teria que inventar uma mágica para fazer as tiras, mas eu até já tinha um plano.

Então, em seguida ele me passou o orçamento e eu pensei comigo mesmo, esse mês vou brocar com esse projeto. Não deve ser muito diferente em qualquer área, mas, pelo menos pra mim, quando um projeto é muito interessante eu quero ver ele sair do papel, mesmo que para isso eu tenha que ter ser um tantinho sacana e aumentar (e muito) o preço da fachada normal, para que ele não ache uma disparidade tão grande de preços entre a normal e nosso amado sandalhão, que eu estava fazendo barato (juro!) para a complicação que seria.

Quando o cara foi lá para ver o projeto e o orçamento quase teve um treco, ele não sabia se ria ou se chorava, adorou o projeto, odiou o preço. Mas no fundo ele sabia que a melhor solução pra ele seria o projeto especial. Saiu de lá com os orçamentos na mão dizendo que me ligaria no dia seguinte pra acertar a forma de pagamento, e nunca mais ligou. Algumas semanas depois passei na porta da loja dele e vi que continuava do mesmo jeito com cartazes promocinais da Ipanema, nem fachada simples, nem sandalhão. Acho que ele deve ter levado uma surra de Ipanema em casa quando comentou com mulher quantas Havaianas a menos ela teria que comprar por causa da fachada.




segunda-feira, 4 de abril de 2011

Adesivo em Academia de Prédio com instalador chorão...

Pra começar bem, resolvi contar minha primeira experiência acompanhando uma instalação de material, nesse caso, adesivos para uma Sala de Ginástica de um prédio na Av. Centenário. Eu não acompanho todas as instalações, normalmente, só vou quando o cliente é importante ou quando dá na telha, nesse dia, deu...

Todos os condomínios novos inventaram de ter Salas de Ginástica em seus playgrounds. É fato também que os síndicos sempre querem deixar esses espaços bonitinhos com plotagens, TV´s de Plasma, etc. (Mesmo que os aparelhos sejam uma merda...)

Esse caso não foi diferente, recebi a ligação do síndico do prédio e fui fazer a vistoria do local, tirar medidas, etc. Essa visita, normalmente, é bastante reveladora, porque tem pessoas que acham muito barato e outras acham que é caro, muitas vezes sem ter nenhum parâmetro para efetuar esse julgamento. Aí, se o profissional de atendimento for bom, vai fazer o cara envelopar até a mãe dele achando que tá pagando uma pechincha.

Nesse prédio tinhamos duas salas a plotar, a tal Sala de Ginástica e o Salão de Jogos, ambos recém construídos e com a tinta quase fresca, o que é um sério problema para aplicação de adesivos.

Lá fomos para a instalação, eu e mais 2 adesivadores (um deles na sua primeira semana na empresa, assim como eu...). Chegando lá, os caras começaram a montar tudo e eu fiquei observando.

Adesivos grandes, normalmente, são aplicados de cima para baixo e da esquerda para a direita, os caras começaram até certo, mas o adesivo estava mole* demais, A arte tinha um chapado preto na parte superior e quanto mais tinta você coloca no adesivo, mais ela reage fazendo com que o adesivo demore mais tempo para curar* (como os prazos de comunicação visual sempre são beeeeem apertados, conseguir que um adesivo esteja no tempo certo de cura é quase absurdo) e isso fazia com que o adesivo ao ser colado em cima não ficasse e fosse se enrolando e fazendo um bolo de adesivo nessa quina superior da parede, uma verdadeira cagada histórica.

O adesivador foi ficando nervoso, aplicando o resto mas olhando para aquela ponta ridícula (toda a parte superior do adesivo)que tinha ficado embolada e eu já preocupado com o resultado final do material, lógico que aquilo não ia ficar bom. Pra completar os dois sacanas perderam o alinhamento com a parede e o adesivo foi ficando diagonal para a direita, de modo geral, esses adesivos são reposicionáveis, você consegue levantar ele e aplicar novamente para corrigir esse tipo de erro. Aí deu-se o seguinte diálogo e foi aí também que deu-se a merda:

Marcelo: - Man, essa porra tá torta, levanta o adesivo e reposiciona.
Instalador 1: - Tá não véi.
Marcelo: Rapaz, olhe onde ele vai acabar embaixo, mais de 1cm afastado da quina da parede!!
Instalador 2: É cara, tem que levantar o adesivo.
Instalador 1: É, então bora, levanta ai...
Parede: - Crack!
Instalador 1: - Ih, fudeu...

É, meus amigos, nessa reposicionada o adesivo levantou sim, mas trouxe com ele um pedaço do reboco da parede do tamanho de Sergipe. Eu não sabia onde eu enfiava a cara e pra completar, quem chega?? O sacana do síndico me aparece na porta e fica contemplando a merda feita...

Nisso, o instalador desce da escada a passa por mim voando e vai para o jardim do prédio. Fiquei conversando com o síndico, dizendo que essas coisas eram normais e tal (mentira da porra, não tinha experiêcia com nada daquilo) e liguei para o dono da empresa que disse que estava pertinho e ia lá. Fui falar com o instalador para ver o que poderiamos fazer e continuarmos com os outros adesivos que tinham que ser instalados. O cara tava se acabando de chorar, dizendo que não tinha nada que desse certo pra ele e não sei o que. Rapaz, consolar seus amigos já é complicado, consolar instalador marmanjo com birra de adesivo é pra matar um.

O dono da empresa chegou, ficamos de fazer o serviço do reboco da parede no dia seguinte e aplicar o adesivo no dia que a massa e pintura estivessem concluidos e retomamos na mesma hora os outros adesivos, que foram aplicados entre uma lágrima e outra do nosso instalador sensível.



*1  e *2: Adesivos para impressão são compostos, em sua maioria, de 3 camadas a tinta passa para a segunda camada onde reage com outros componentes químicos e é fixada e a última que é a cola. O tempo necessário para essa fixação é chamado de cura. Se esse tempo não for respeitado, o material ainda vai estar reagindo, deixando as partes mais chapadas do adesivo moles e, praticamente impossível, de serem aplicadas.