terça-feira, 5 de abril de 2011

"Só a Ipanema tem as anatômicas" - Mas não tem a sandália gigante!

Algum tempo depois, já com mais experiência, me aparece lá na empresa um dono de uma franquia de sandálias Ipanema, aquela mesmo que tinha um comercial que se repetia de forma infernal. Como a loja ficava no Comércio, próximo ao Porto ele se aproveitava das chegadas dos Transatlânticos que enchem a cidade de gringos que, segundo ele, entravam na loja loucos de vontade de comprar umas Havaianas, e saiam de la carregando a tal Ipanema, crentes que eram Havaianas.

O pior é que ele era apaixonado pela marca Ipanema, disse que era muito melhor que a concorrente e, como a maioria das pessoas, chegou lá querendo fazer algo bacana para a fachada, disse que tinha que chamar atenção, todo empolgado. Eu fiquei olhando para a cara dele e imaginando que porra eu poderia fazer pra agradar um cara desses e depois de 3 minutos de silêncio (silêncio meu, porque o cara falava pelos cotovelos...) eu falei:

Marcelo: - Um sandalhão!
Ipanema: - Como é?
Marcelo: - É rapaz, uma sandália gigante, exatamente igual as que você vende, fixada na em cima da sua porta tipo, uns 3,5 metros de largura por  1 metro de altura!.
Ipanema: - Adorei! De fuder!

Nisso o cara pirou na batatinha, disse que era isso que ele precisava, que ia ficar perfeito, até de gênio me chamou. Lógico que eu virei pra ele e falei que tudo que era inédito tem um preço maior, justamente por conta da falta de referências para o serviço, eu pelo menos nunca tinha visto nada parecido. O cara ia saindo de lá alegre e satisfeito dizendo que era pra eu orçar logo pra começarmos a produção porque ele tinha muita pressa. Mas como nem tudo são flores, antes de sair ele diz:

Ipanema: - Velho adorei! Mas faça um orçamento de uma fachada normal também pra termos uma referência.
Marcelo: - Filho da puta (deu vontade de falar, mas só pensei)

Acho que ele estava pressentindo a lâmina que iria entrar no abdômem dele. Logo que o cara saiu, fiquei pensando que eu já deveria começar a escolher meu caixão, porque sem dúvida nosso chefe de produção iria me matar quando eu chegasse pra ele com um projeto louco desses, mas, fui falar com ele mesmo assim, entrei na produção olhei pra ele sorrindo e larguei:

Maracelo: - Eliesér, meu querido...
Eliesér: - Hum, me chamando assim, lá vem problema...
Marcelo: - Que problema o quê rapaz, tô com um projeto bala pra você aqui.
Eliesér: - Esse é exatamente meu medo...

Ele viu meu projeto, olhou, respirou e disse sorrindo:

Eliesér: - Você quer me matar né? Diga logo!
Marcelo: - Não rapaz, se você parar pra pensar, vai ser simples...
Eliesér: - Simples minha pi... (nessa hora ele calou e lembrou que era cristão)

Mas era verdade, essa porra de simples não tinha nada, era um projeto extremamente complicado feito em caixaria de poliestireno* com alturas diferentes na frente e no fundo e curvas no meio, justamente porque "só a pooorra da Ipanema tem as anatômicas". Isso tudo sem contar que eu teria que inventar uma mágica para fazer as tiras, mas eu até já tinha um plano.

Então, em seguida ele me passou o orçamento e eu pensei comigo mesmo, esse mês vou brocar com esse projeto. Não deve ser muito diferente em qualquer área, mas, pelo menos pra mim, quando um projeto é muito interessante eu quero ver ele sair do papel, mesmo que para isso eu tenha que ter ser um tantinho sacana e aumentar (e muito) o preço da fachada normal, para que ele não ache uma disparidade tão grande de preços entre a normal e nosso amado sandalhão, que eu estava fazendo barato (juro!) para a complicação que seria.

Quando o cara foi lá para ver o projeto e o orçamento quase teve um treco, ele não sabia se ria ou se chorava, adorou o projeto, odiou o preço. Mas no fundo ele sabia que a melhor solução pra ele seria o projeto especial. Saiu de lá com os orçamentos na mão dizendo que me ligaria no dia seguinte pra acertar a forma de pagamento, e nunca mais ligou. Algumas semanas depois passei na porta da loja dele e vi que continuava do mesmo jeito com cartazes promocinais da Ipanema, nem fachada simples, nem sandalhão. Acho que ele deve ter levado uma surra de Ipanema em casa quando comentou com mulher quantas Havaianas a menos ela teria que comprar por causa da fachada.




2 comentários:

  1. Marcella Figueiredo5 de abril de 2011 às 10:31

    Lembro desse cliente...Nunca entendi o porque ele não voltou...Eu teria ganho tantos presentinhosssss hihiihihih =)

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  2. Cara, se me tiver como referência, você tá fudido. Mas enfim, continua escrevendo. Produção dá boas histórias.

    abraço

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